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segunda-feira, julho 16, 2007

LEMBRANÇAS E TORMENTOS

Feche os olhos e imagine,
Um mundo sem paredes
Nem cimento,
Sem sons nem aquecimento,
Sem gente, sem esquecimentos.

Feche-se e olhe por dentro,
Não há nada mais aqui fora.
Deixe-se desvanecer da tua aurora
Exerça teus sentimentos.

Reflita,
Relembre bons momentos.
Deixe teu choro chegar aos olhos
E tuas lágrimas descer na face.
Encontrastes!
Encontrastes a ti mesmo.

Agora saboreie o teu eu,
Reconheça os caminhos de tua infância
Sem pensar,
Sem saber,
Só querer.

Ali você não tem dinheiro,
Ali voce não tem poder,
Você tem você, de alma inteiro,
Para descobrir-se como poderia ser.

Lembra-te quando criança?
Teus dias não tinham horas,

Dividia-se em dia e noite.
Noite de sonhar e acordar,
Dia de brincar e ir a escola.

Teu destino tomou rumos,
Da infância ignorados,
Hoje tu és homem
Muito menos que o sonhado.

Queria ser bombeiro,
Policial ou motorista
Ou então, cantor
Ou ainda, grande artista.

Respondia teus desejos
Ao impulso de sonhar.
Hoje, nem um nem outro,
Chegastes a nenhum lugar.

Corres contra o tempo
Numa ânsia de poder,
De querer o mundo de enganos
Criado pelo destruidor.

Agora abre teus olhos!
Observes!
A pobreza de paredes e ruas,
O frio do concreto, a cor cinzenta,
O louco movimento, tanto barulho!

Não foi isto que sonhastes,
Nem o que desejastes
Mas foi o que criastes.

Ânsia e ganância.
Monstros que por ti alimentados
Alcançaram tamanho e poder.
Hoje tudo comandam,
E não deixam você, ser você.

Esquadrinharam tuas noites e dias
Em segundos e milésimos.
Comem tuas noites de sonhos
E teus dias de fantasias.

Tua escola, antes divertida.
Tornou-se prisão enfurecida
Correndo atrás de ti
Para que não pares na vida.

Que vida? te pergunto,
Podem elas oferecer?
Se, por onde passam destroem.
Destroem até mesmo você?

Enquanto te adestram,
Constroem o monstro da vaidade
Da vantagem e do lucro.

Colocaram-te viseiras
No qual miras um quadro colorido
Mas é só uma pintura fria
De um mundo não sonhado.

Criaram pensando em ti
Para te iludir e dividir
Até que nada reste
Do menino que sonhou.


Por: Regina Chaves

A INSUSTENTÁVEL INSENSIBILIDADE DO NÃO SER

Quem pensas que sois?
A quem quer enganar?
Quando andas empertigado,
Com cujos olhos fixam o infinito?

Sois como frutos caídos,
Devorados por pragas e vermes.
Não vives,
Morres a cada dia,
Por misericórdia ou tormento.

Quem pensa que sois?
Que sois felizes?
Por ser consumido em vida,
Enquanto miras um infinito
Ao redor do teu umbigo?

A quem queres enganar?
Quando compras,
O que pensas precisar?
Não pensas,
Engana-se a cada dia,
Por misericórdia ou tormento.

Queres saber o que és?
Olhai
Para além de ti,
Escutai
Os murmúrios,
Ao curvarem-se ossos,
E o arrastar-se de carnes.

Olhai
A loucura dos lábios,
E o esbugalhar dos olhos,
Num esgar convulsivo de apego
Ao nada.

Sabes o que és?

És tu
Despido da orgulhosa armadura,
Despido do engodo
Que te fez pensar ser algo,
Ou ser um pouco qualquer coisa.

És tu,
Diante de ti mesmo,
Embrutecido
Ao descobrires tua inanidade.

Não duvides
Acredites a cada dia,
Por misericórdia ou tormento.

E assim,
Poderá transformar-se
Em algo próximo
De coisa
Destituída de matéria.


Por: Regina Chaves 14/06/2006

ADORMECIDA

Desperta a minha alma!
Que vaga em mansa calma.
Não tem olhos,
Não tem mãos.
Ah! saborosa escuridão!
A matéria se desfez,
É o divagar, o meu novo chão.
Consigo estar em mim,
Comigo mesmo.
Mais um pouco e a luz me despertará.
Não! que a luz se demore ainda,
Deixa-me mais um pouco assim!
A viver a eternidade
De um momento
Só pra mim.
Doce volatizar-se,
Buscar-se sem urgência,
Sem necessidade.
Sou fada, sou deusa,
Sou nada!
Poderes me são atribuídos
Pela mágica de meus sentidos
Transcendidos, imaginários.
Suaves toques imobilizados
Pela morosidade sinuosa.
Existo no imaginável
De um mundo abstrato.
Da neblina fez-se o mundo,
Aqui enquanto adormeço.
A noite, apenas reconheço,
Pela maciez e a tepidez
Sinto-as em mim e para mim.
A claridade do mundo condena-me,
A lassidão apazigua-me.
Terno anoitecer, manso descaso,
Quero assim permanecer, não pensar,
Nem subverter,
Apenas imaginar o perfeito
Inexistente, inconsistente, inconsciente.


(Por Regina Chaves)

quinta-feira, julho 05, 2007

EU E VOCE SOMOS NÓS

Ao pensar o mundo em que vivemos,
As esperanças se esvaziam,
O tudo se converte e convulsiona.
Pensamos as virtudes perdidas
Impedidas, insistidas, aspiradas.

No mundo em que vivemos,
Os homens se apequenam,
Transformando-se em feridas
Como a dor a latejar nas carnes,
Rígidas, rítmicas, persistentes.

Buscando a cura, cuspimos o chão,
Na contumácia de nossa convicção
Evadimos para o espaço do âmago,
Fechamos os olhos, empedernidos,
Imbuídos em não pensar verdades.

Transcendemos o limite da razão.
Transformando loucura em sonho,
No qual o cerne a seiva se satisfaz
Das mentiras gostosas que geramos.
Seduzidos pelo prazer da inocência,
Envoltos pelo invólucro do egoísmo.
Pensamos o mundo só deles,
Dos déspotas descarados e estultos.

Esquecemos que somos o mundo,
Cúmplices da caoticidade,
Culpados pela dor que se delega.
Empulhadores da própria responsabilidade,
Empoados da mesma sujeira,
Emparelhados, andando em vezo,
Vermes inermes inertes inúteis.

(Regina Chaves, 5/07/2007)

domingo, julho 01, 2007

O Homem: elemento do todo

Observando a natureza, percebemos os movimentos de retorno da maré; das fases lunares; das estações do ano; do germinar, florescer e frutificar das sementes sob uma lei constante, rigidamente estabelecida e interligada por forças desconhecidas, cientificamente aceitas e religiosamente cridas.
O homem, elemento intrínseco deste sistema tenta por vezes explicá-las, acusar-se ou imputar as conseqüências geradas. Não percebe que carrega em si as intermitentes negação e afirmação do seu eu presentes num movimento maior que o seu ir e vir medíocre.
As diferenças surgem quando o ciclo ocorre individual ou coletivamente. Quando coletivamente, a massa agiganta-se em favor ou contra e a intensidade atinge proporções catastróficas, no entanto, seja o homem culpado ou passivo dessas mudanças, percebe-se como sujeito de algo inexorável e imensurável.
A história delata abusos cometidos: seja do homem para o homem; do homem para a natureza ou ainda da natureza para o homem.
Em qualquer situação as ocorrências não foram únicas, seguiram-se respeitando-se a lei inteligível e indecifrável.
Seja por demonstração de poder ou necessidade extrema. Busca-se respostas para questões angustiantes. Desconhece-se a verdade do por que, de onde e para onde.
Talvez por não se aceitar a mediocridade de não realeza, obtemos apenas explicações aceitáveis e nem sempre confiáveis
O monstro Adamastor, Cirene e Caribde foram explicações sobre mitos nascidos da ausência de conhecimento, no entanto o fato de representarem fenômenos ou elevação naturais não afastam as interrogações emanadas do homem sobre o poder da Natureza.
As batalhas importantes contra o poder natural não aboliu-o dos perigos que Ela representa. Nem poderia, pois ele é elemento, partícula que integra o todo. Dia a dia, ano a ano, século a século novas batalhas surgem, estabelece-se o verdadeiro senhor.
Basta agora, que o homem se renda e respeite o poder supremo, dê a Ela o espaço tomado, pare de incriminar-se pelas nações subjugadas ou extintas, pois quem culpar pela dissolução dos povos antigos aos egípcios? Como culpar por terem sido os gregos os melhores escravos que os Romanos tiveram? Por que culpar o homem de subjugar o próprio homem, se africanos venderam seu próprio semelhante para cativeiro, enquanto no novo continente, índios trocaram seu povo por machados e enxadas? Por que afirmar a destruição do planeta pela avidez gananciosa do homem se os dinossauros foram extintos sem que o homem existisse?
Todas as coisas existem e todas serão destruídas ciclicamente. A lei segue-se por determinação de força maior, contra ela não há contestação, contra ela não há indulto.
Quando Nietsche contestou o eterno retorno seguiu o raciocínio da mediocridade, condenou aquele que já estava algemado e morria lentamente sufocado sob seus próprios pensamentos.
Passou-lhe despercebido uma linha ampliada e desconhecida, afinal, de que nos serviria um outro Ritler, uma segunda bomba atômica, senão para arrepender-nos e condenar-mos duas vezes?
Afirmação e Negação, ser e não ser, ciclo eterno, natural e inumano, isso significa e significará inicio do que antes existira, mas de um outro modo, de um modo melhor, ou simplesmente diferente.