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segunda-feira, julho 30, 2012

ANÁLISE DO CONTO DE KATHERINE MANSFIELD (1888-1923) Miss Brill Num recorte naturalista que integra o humano ao ambiente, a autora desenha por meio do conto Miss Brill, a fragilidade da personagem num determinado momento em que ela se percebe solitária. Os elementos naturalistas estão presentes a partir da escolha do ambiente: The Jardins Publiques no qual a personagem reconhece os raios dourados de sol brilhantes como o vinho branco; trees with yellow;the blue sky with gold veined clouds. A atmosfera não é de verão e sim de inverno e início de primavera. Tempo do renascer das plantas e do florescer das flores. Os jardins Públicos da França são espaços para socialização, para a diversão da sociedade depois de um longo e rigoroso inverno. Miss Brill é parte dessa sociedade e retrata a cultura e as características dessa sociedade. Durante toda a narrativa percebe-se nuances de nostalgia. a lembrança não traz o mesmo tom da realidade de outrora. Há nuances sombrias de angústias e solidão. O conflito entre realidade e introspecção está presente na fragilidade da personagem quando encontramos, por exemplo, o uso constante da palavra "litle" significando "pouco" ou "pequeno" numa tentativa de inferiorização, diminuição do "eu" ou dos pertences. Percebe-se as nuances sombrias quando Miss Brill usa a expressão "dark litle rooms" or even-even cupboards para armários escuros iguais à caixa de onde ela tira a pele de arminho, assim como parece que todas as pessoas do parque também saem dos seus armários escuros. Miss Brill se delineia entre a realidade sombria de sua vida monótona como professora de inglês e a fragilidade de suas pequenas alegrias como o passeio aos domingos à tarde; sua pele de arminho como única companhia; a fatia de bolo-de-mel que as vezes vem com amêndoa. Durante o passeio, ela assiste as pessoas passearem e as vestimentas apresentam o mesmo diacronismo alegre X triste; bonito X feio; velho X novo. Para os apaixonados e jovens as cores alegres, para os velhos sobram apenas as roupas escuras, velhas e tristes assim como a pele de arminho. Ao descrever as pessoas a narradora apresenta sentimento positivo e negativo. Positivo quando se sente um personagem de uma grande peça teatral e negativo quando é rejeitada, dispensada pelo jovem casal até mesmo de ser platéia. Ela assiste a tudo, assim como se assistisse a vida passar numa cena de teatro ou numa pintura onde os devaneios do observador é dão vida e movimento ao objeto estático. Sempre a mesma paisagem mesmo que hoje seja um velho casal e ontem um jovem casal. Embora os Jardins sejam para encontros e conversas, Miss Brill não participa desta socialização. Apenas assiste, numa distância segura, vive à margem da vida como quem vive à margem da alegria completa. Sua pele de arminho é sua única companhia e o que recebe seus carinhos. A música, como a vida, persiste em tocar, ora mais quente, ora mais romântica, ora descansando como um eterno ciclo que reflete ora seus anseios , ora suas alegrias, ora suas tristezas, até descair para um ritmo monótono, compondo assim uma trilha sonora na qual os sentimentos ou estado de espírito se confundem aos ritmos melódicos. Os cabelos já haviam sido amarelos é pista de que agora são brancos. A pele de arminho é marrom no verão e branca no inverno. O tempo marcado pelo inicio e fim de tarde retrata no final do conto uma cadência da própria vida. Final de tarde, final do passeio, final de pequenas alegrias, restando apenas a volta para o armário escuro e o choro como quem chora a morte.