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quarta-feira, setembro 26, 2007

UM MITO SACRIFICIAL: O indianismo de Alencar na visão de Alfredo Bossi

Embora de forma não linear, Alfredo Bossi traça um paralelo entre a corrente do saudosismo europeu, caracterizado no romantismo pela retomada das figuras medievais, dos cavaleiros salvando suas donzelas e protegendo sua castidade enquanto defende o reino e seu rei, como as obras de François-Auguste Chateaubriand, Walter Scott e Xavier de Maistre nas quais identificamos profundo nacionalismo associado ao romantismo, chamado por Bossi como “historiografia romântica”.
É da necessidade em se criar símbolos nacionalizados para privilegiar a temática americana e incorporadas do elemento primitivo, visto a miscelânea de nações já instaladas aqui, destacando então, as diferenças do velho e do novo mundo, entre as quais: as paisagens naturais e frondosamente verdes e o índio ou ainda conforme Rosseau “o bom sauvage” que gera tal perspectiva.
Para expor seus argumentos Bossi faz um estudo das obras de José de Alencar em: O guarani, Iracema, O sertanejo e alguns cantos de Gonçalves Dias., detendo-se mais demoradamente sobre O guarani.
A descrição do “bom sauvage” que Alencar enfatiza tanto no feminino, como Iracema e no masculino, como Peri, apresenta o sentido de mito resignado e apaixonado, transformado em herói, forte, corajoso sendo rei da natureza e vassalo do amor da donzela e também subserviente ao senhor português. O mito se realiza pela força e coragem ao viver um amor que pode levá-los à morte ou ao abandono de suas raízes, tanto em Iracema que abandona sua tribo e segue seu amor, quanto por Peri que vê sua religiosidade colocada à prova em O Guarani. O paradigma da emoção sobre a razão valorizou ainda mais a beleza do elemento indígena dando-lhes aspectos religiosos e morais, a bravura e a pureza da alma nativa se tornaram fatores elementares para a formação de um povo puro e verdadeiramente brasileiro cujo aspecto mitológico só poderia ser conseguido através do sacrifício espontâneo.
O mito segundo Bossi é uma “cabeça de duas faces” na quais refletem contradições reais, uma olha para a história e tem a figura do colonizador como mediador da possibilidade em transformar seu servo em herói, e outra, a do próprio herói como súdito servil e bom, corajoso e forte, delegando à figura nativa qualidades que se contradizem, um salvo conduto para se expor em oposição a ela mesma em função de um bem maior: a formação lendária do Estado do Ceará em Iracema e Martim e do Estado do Rio de Janeiro em O Guarani de Peri e Cecília.
Tanto a figura indígena e a natureza exuberante estão simbolicamente representando uma nação livre do jugo colonial e da mazela que a invasão proporcionou. Bossi ressalta que não foi o povo indígena elevado à condição de herói, mas apenas, aqueles índios que juraram amar incondicionalmente a figura amada enquanto servilmente se sujeitava ao papel de colonizado, pois as demais populações indígenas eram inimigas, como os aimorés em O Guarani e os tabajaras/potiguares em Iracema. Esses exalavam a sua condição violenta, desumana e diabólica em contraposição ao cavalheirismo de D. Antonio e de Peri.
Alfredo Bossi dedica a Alencar o fato de trabalhar com o conceito de “atenuidade brasileira”, como uma forma de “não destruição das tribos tupis”, e sim para uma “construção ideal de uma nova identidade nacional”.
Enquanto que, G. Dias narra poeticamente as tragédias que o colonizador impôs ao índio e a colônia numa versão apocalíptica da destruição de tribos inteiras por quem ele chama de “velho tutor e avaro, cobiçoso da beleza de sua pupila, a América”. Bossi relata as diferentes narrações em que esse efeito catastrófico foi encontrado em outras nações latinas como se o povo latino profetizasse seu próprio extermínio.
E em outra análise, o resultante das visões sobre o nacionalismo atenuado de Alencar e o catastrófico G. Dias reside no fato de: Gonçalves Dias ter vivenciado “tensões locais anti-lusitanas que vão de 1822 à revolução Balaiadas”, enquanto José de Alencar desfruta dum momento político menos conturbado, pode agradar as jovens leitoras, que, culturalmente contaminadas pelas modernices européias curvavam-se diante das historietas amorosas.

Por: Regina Chaves
Unioeste/Cascavel/2006

5 comentários:

jeane braz disse...

Muito bom, me ajudou a entender melhor o texto de Bossi.

O mais profundo do eu disse...

Obrigada jeane braz, seja sempre bem-vinda.

Dann disse...

Muito bom, parabéns, resume perfeitamente o texto!

O mais profundo do eu disse...

Obrigada Dann, seja bem-vindo. Se existir outras dúvidas referentes às disciplinas do curso de letras, conte comigo...

Anônimo disse...

A America entra nessa narrativa como inimiga ou traidora da x Africa por ter colonozado povos negros africanos. O fato de q ela foi colonizada nao a tornaria mais potencialmente trsidora???