Amanhã
Quem sabe
No domingo
Com certeza
Mais provável
Nas férias
Porque o hoje está perdido
O futuro da incerteza
Na busca da felicidade
Vivem
E passam
Como se morressem
A cada dia
Falam
Como se conhecessem o amanhã
Nada sabem
Nada entendem
Senão, que o hoje está perdido
Seu hoje de escravidão sem cor.
Quisera gritar-lhes
Hoje existe!
Único que persiste
Amanhã é irreal
Não ouvem, continuam
Na ânsia louca de buscá-lo
Para curar-lhes a alma ferida
Cansada, Iludida
Pelo prazer que nunca chega.
Gente feia
Gente gasta
Conversam
Como se falassem a si mesmo
E nem isso ouvem
Apinhados
Apertados
Não cabem no espaço reservado
Mas cabem na vastidão do mundo
Mundo vasto mundo
Ela não se chama Raimunda
Mas não é feia que não possa casar
Casou-se
Agora tem marido e filhos para sustentar
Ele mutilado por uma fera enlatada
Que com garras dentadas
Arrancou-lhe o amanhã
Arrasta carregando o corpo
Como um molusco em sua casca
Sem cajado
Sem esperança
Olhos distantes Coração vazio
Máquinas os levam,
Máquinas os trazem
Pelas sombras da realidade
Subprodutos.
Não inauguram linhagens
Abelhas
Que produzem operárias
Liberdade, Igualdade!
Gritam,
Empunhando a bandeira desfraldada
Gasta
Suja
De uma luta sem vitória
Preferem as limpinhas
Carne fresca e rija
Olhos brilhantes
Inocência
Boa qualidade
Gastam beleza
Juventude
Alegria e sonhos
Combustível
De uma máquina fria
Que espalha
Fiapos, farrapos e trapos
Pelo caminho
Agora é 18:05
Só posso sair 18:45
Meu tempo não é dinheiro
É desperdício
Meus braços
Os braços chegarão a tempo
Tudo vale a pena
Se alma é pequena.
Chame o dono do mundo!
Precisando de dinheiro?
Precisando de dinheiro?
Precisando de dinheiro?
Um chamado urgente
Eco surdo
Por olhos distantes
Alguém realmente precisa de dinheiro.
Roupas móveis
Gentes coisas
Moto táxi
Táxi táxi
Fone cell
Donald Mac
Táxi móveis
Moto carros
Coisas gentes
Ecos surdos
Sons agudos
Homens mudos.
Queria fazer um soneto
Quarteto, quinteto
Terceto, dueto
Sem teto para esconder
Sem paredes para dividir
O mundo do mundo em mundo
Imundo amanhecer
Um hoje que chora um silêncio
Que alguém pode ouvir
Braços que choram coisas
Derramam coisas
Produzem coisas
Sem nada possuir
Braços que se gastam se agastam
Na gastura de não pertencer
A corpo algum
Se alegrar na vida que não vive?
Ou viver na vida sem prazer?
Duas bandeiras empenhadas
Nestas almas não mais envergonhadas
Sem fronha, sem bronha,
Sem nada.
Feias
Gordas
Tortas
Uma vez belas
Hoje
Sonhos esquecidos
Amadurecidos
Apodrecidos
Na espera do amanhã
Que não vem
Hoje
Hoje
Hoje
Porque a vida é feita de tantos hojes?
Tudo vale a pena
Se a alma é pequena
─ 10 reau a carteirinha
─ 10 reau o exame
─ 15 o acompanhante
O prazer
Custa caro
Elas precisam só dos braços.
Chamem o dono do mundo!
Diga-lhe que cale essa louca
Que não tem licença para poetizar
Tristezas e amarguras não poucas.
Dêem aos homens nobres
Da mais alta envergadura
Para que em palácios brilhantes
Compor belezas etéreas e puras
Chamem o dono do mundo!
Para calar a loucura
Que no coração se agita
Quando na caixa de lata
Enxerga o hoje da vida dura
Chamem o dono mundo, agora
Pois com certeza,
Foi ele
Quem abriu a boceta de Pandora
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